Especialistas pedem o fim da utilização abusiva de um célebre índice de impacto científico

Criado para avaliar a qualidade das revistas especializadas, o "factor de impacto" científico tem vindo a servir cada vez mais para avaliar a qualidade do trabalho dos próprios cientistas. Isso tem de acabar, declaram os signatários de um manifesto tornado público há dias.

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O "factor de impacto" foi criado para avaliar a qualidade global das revistas cientificas Wikimedia Commons/Vmenkov

Mais de 150 cientistas e 75 instituições científicas, na maioria norte-americanos e europeus, lançaram um apelo conjunto onde deploram a maneira como o chamado “índice de impacto" das revistas científicas (JIF na sigla em inglês) tem sido utilizado de forma “suja” para avaliar o desempenho individual dos investigadores e decidir assim se o seu trabalho merece ou não financiamento, noticiou a revista Nature no seu site.

O JIF, calculado com base no número de vezes que cada artigo de uma dada publicação especializada é citado noutros artigos, foi inventado nos anos 1950 para permitir que as bibliotecas avaliassem a importância das revistas científicas e pudessem assim escolher que revistas assinar. Hoje em dia, os JIF são calculados pela empresa Thomson Reuters.

Mas o problema é que estes índices têm vindo cada vez mais a serem utilizados para um fim que não o original. Aliás, ainda segundo a Nature, a própria Thomson Reuters tem alertado para o facto de que os JIF não medem a qualidade científica de um dado artigo de uma revista isolado do resto, mas antes a reputação global dessa revista na sua área.

“Nós, comunidade científica, somos responsáveis por esta confusão toda, nós é que gerámos a percepção segundo a qual quem não publica na Cell, na Nature ou na Science nunca vai arranjar emprego”, diz Stefano Bertuzzi, director executivo da Sociedade Americana de Biologia Celular, que coordenou a elaboração do manifesto, conhecido como Declaração de San Francisco sobre a Avaliação da Investigação Científica, ou DORA.  “Está na hora de a comunidade científica assumir o controlo do problema.”

O documento enumera 18 recomendações, dirigidas a financiadores, instituições, cientistas, editores e empresas fornecedoras de índices de impacto científico.

 

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