Europa salvou os bancos mas arrisca-se a perder uma geração, diz Martin Schulz

Os países da UE são “campeões do mundo” a fazer cortes, mas não a pensar medidas para o crescimento, diz o presidente do Parlamento Europeu.

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Para Schulz, a Europa deve encontrar medidas que promovam o emprego THIERRY CHARLIER/AFP

A Europa gastou milhões de euros para resgatar os bancos, mas, com a crise e os actuais níveis de desemprego, em particular entre os jovens, arrisca-se a perder uma geração, considera o presidente do Parlamento Europeu.

Em entrevista à Reuters, o alemão Martin Schulz identifica a perda de confiança dos cidadãos na capacidade de a União Europeia resolver os seus problemas como “uma das principais ameaças” da própria UE. “E se a nova geração perde confiança, penso que é a UE que está verdadeiramente em perigo”, diz.

Para Schulz (do partido Social Democrata da Alemanha), se a zona euro encontrou “700 mil milhões de euros para estabilizar o sistema financeiro”, terá de investir um montante idêntico para “estabilizar” as novas gerações nos países em dificuldades. “Somos os campeões do mundo dos cortes orçamentais, mas temos menos ideias quando é preciso estimular o crescimento”.

Desde o início da crise das dívidas soberanas, com o primeiro resgate financeiro à Grécia, ao qual se seguiram as intervenções na Irlanda, em Portugal e a aplicação de planos de ajustamento em Espanha e Itália, a zona euro criou mecanismos de estabilização financeira e reforçou as regras orçamentais e de controlo sobre as políticas nacionais.

Na medida em que a zona euro encontrou volume financeiro para resgatar os países alvo da especulação financeira, Schulz defende que a Europa deve também encontrar medidas que promovam o crescimento e o emprego, num quadro recessivo da economia da moeda única e de aumento do desemprego (11,9% da população activa dos países da zona euro).

“Grécia, Espanha e Itália têm, talvez, as gerações mais qualificadas da sua história”. Os pais investiram na educação dos filhos e “agora, que estão prestes a entrar no mercado de trabalho, a sociedade diz-lhes: ‘Não há lugar para vocês’”, critica Schulz. “Estamos a criar uma geração perdida”.

As declarações do presidente do Parlamento Europeu são conhecidas no mesmo dia em que o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, alertou para as consequências sociais da crise na Europa.

A dias de uma cimeira de líderes dedicada à coordenação das políticas económicas, orçamentais e de emprego, Barroso alerta que a zona euro ainda não saiu da crise, como diz mostrarem os “níveis inadmissivelmente elevados de desemprego”.

O presidente do executivo comunitário considera que os esforços de reforma dos Estados-membros começam “a dar frutos”, mas tal não se reflectiu ainda na economia real.
 

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