Eleições na Guiné-Bissau já não são na data prometida pelos militares golpistas

Presidente de transição confirmou adiamento. Ramos-Horta, novo representante das Nações Unidas, reafirma que será difícil conseguir apoio internacional.

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Ainda vai demorar até que os guineenses possam voltar a votar Joe Penney/Reuters (arquivo)

As eleições prometidas pelos militares que, no ano passado, tomaram o poder na Guiné-Bissau não se realizam em Abril, como previsto, confirmou Serifo Nhamadjo, Presidente de transição, designado após o golpe. Será “impossível”, disse, sem adiantar nova data.

O mês de Abril, quando se completa um ano sobre o golpe que afastou o Governo eleito, liderado por Carlos Gomes Júnior, foi sempre referido como data para as eleições. Nhamadjo falou agora em Maio, mas para afastar a possibilidade de acto eleitoral nessa altura.

“Estava previsto que no fim da transição, houvesse eleições gerais, em Maio de 2013. Isso é impossível. Tecnicamente há muitas coisas a fazer”, disse, no domingo, numa declaração reproduzida na segunda-feira pela AFP.

A informação foi, segundo a agência, prestado por Serifo Nhamadjo aos dirigentes da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental), durante uma cimeira sobre o Mali, no sábado, em Abidjan. “Todos compreenderam as dificuldades que enfrentamos e aprovaram a nossa proposta de adiamento das eleições para mais tarde.”

Após o golpe de 12 de Abril de 2012 – entre as duas voltas das eleições presidenciais – foram empossados Serifo Nhamadjo, designado um Governo de transição e prometidas eleições gerais no espaço de um ano.

Em Dezembro, a comissão eleitoral considerou necessários para realizar o escrutínio 30 milhões de euros, a revisão da legislação eleitoral e um recenseamento. O Governo de transição diz que não tem dinheiro para organizar as eleições e Nhamadjo afirmou também agora que a organização do escrutínio “necessita de um financiamento”.

Na sequência do derrube do Governo do primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, pelo chefe de Estado-Maior, António Indjai, a maior parte dos parceiros internacionais da Guiné-Bissau suspendeu o auxílio ao país.

O novo representante de Ban ki-Moon, secretário-geral das Nações Unidas, para a Guiné, Ramos-Horta, que em Fevereiro chega a Bissau, admitiu na segunda-feira em Lisboa que será difícil mobilizar a comunidade internacional para apoiar as eleições nas Guiné-Bissau.

Horta, que numa entrevista ao PÚBLICO [conteúdo exclusivo para assinantes] tinha já manifestado dúvidas que o prazo de Abril fosse cumprido, disse, após uma reunião com o secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Murade Murargy, que não será fácil conseguir apoios devido “à crise financeira e económica que prevalece no mundo” e aos “constantes recuos no processo na Guiné-Bissau, alguma desilusão, desencanto”.

O PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Gomes Júnior, actualmente exilado em Portugal, manteve-se durante meses à margem de um “pacto de transição” a que a maior parte das forças políticas do país aderiram em Maio, alegando que subscrevê-lo seria legitimar o golpe. Mas, na semana passada, reconheceu o poder actual, ao subscrever o documento, juntamente com quatro pequenos partidos.

Um porta-voz do PAIGC, Óscar Barbosa, disse, em nome do primeiro vice-presidente, que o partido está disposto a trabalhar para “fazer sair o país” da situação em que se encontra. “Assinámos o pacto para reduzir o sofrimento do nosso povo e contribuir para o regresso à normalidade. A assinatura do pacto pelo partido histórico da independência – que considera estarem agora criadas condições para ser formado “um governo inclusivo, de base alargada e de emanação parlamentar” – ocorreu na Assembleia Nacional Popular.

Serifo Nhamadjo, que concorreu como independente contra Gomes Júnior nas eleições presidenciais interrompidas pelo golpe do ano passado, está suspenso da militância no partido O PAIGC adiou um congresso que tinha previsto para este mês de Janeiro.

A CEDEAO, à qual Nhamadjo confirmou o adiamento das eleições, foi a única entidade internacional que apadrinhou a nomeação de autoridades transitórias. Na sequência do golpe, uma força da organização africana substituiu uma missão angolana que estava instalada na Guiné-Bissau e cuja presença desagradava à hierarquia militar.

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