Ana Gomes: Nobel é o reconhecimento do "terrível perigo" de desintegração da UE

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Um prémo merecido e justificado, diz Ana Gomes Nuno Ferreira Santos

A eurodeputada socialista espera que este prémio sirva como "um tremendo alerta" para as lideranças europeias que têm sido "tão brutas, tão tacanhas, tão pouco fiéis aos valores europeus da soldariedade, da paz e da coesão".

Como encara a atribuição do prémio Nobel da paz à União Europeia?

Tenho sentimentos mistos. Por um lado, obviamente que penso que é merecido por toda a acção de paz desenvolvida pela UE. O próprio projecto da UE é um projecto de paz e de irradiação de paz, da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito, que são valores fundamentais. Globalmente, o balanço também é positivo, embora eu seja muito exigente porque gostaria que na actualidade a UE fosse ainda mais eficaz no plano externo enquanto actor global. Mas também sei que não o pode ser se não resolver a sua própria crise interna. No fundo, este prémio também é atribuído enquanto reconhecimento da gravidade da crise. Muitos cidadãos e governantes europeus parecem desvalorizar, mas há de facto um risco sério de a UE se desintegrar. E isso foi justamente referido entre as razões da atribuição do prémio, que foi concedido à UE enquanto actor da paz pelo Mundo mas também pelo risco que corre neste momento de se desintegrar com as lideranças desastrosas que temos tido.

A UE era o galardoado certo este ano?

Se atendermos ao facto de que se trata do mais fundamental e do mais importante projecto de paz do Mundo, e que a UE está neste momento em perigo por causa da crise e por causa das ameaças de implosão, penso que é um prémio que se justifica. Enche-me de alegria? Não, não enche, porque é sobretudo o reconhecimento do terrível perigo em que estamos de que esse projecto de paz se desintegre.

Que efeito vai ter este prémio?

Espero que tenha exactamente esse efeito poderoso para as lideranças europeias, que têm sido tão brutas, tão tacanhas, tão pouco fiéis aos valores europeus da soldariedade, da paz e da coesão. Espero que sirva como um tremendo alerta e, sobretudo, que [os líderes] não entrem numa atitude auto-congratulatória que seria completamente despropositada face aos riscos que neste momento temos pela frente, e que este prémio no fundo reconhece, de desintegração deste projecto de paz.

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