Governo francês recomenda remoção de implantes mamários da marca PIP

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Os implantes foram feitos com silicone industrial, dez vezes mais barato do que o apropriado Foto: Eric Gaillard/Reuters

O ministro francês da Saúde, Xavier Bertrand, recomendou esta sexta-feira, “a título preventivo e sem carácter de urgência”, que as 30 mil mulheres que têm implantes mamários da marca Poly Implant Prothese (PIP) os removam, mesmo que estes não apresentem qualquer sinal de deterioração.

Em França há 30 mil mulheres com este tipo de implantes da PIP que foram feitos com silicone industrial dez vezes mais barato e não apropriado para produtos clínicos, tendo revelado uma taxa de ruptura de 10%, muito superior ao normal, que não costuma ultrapassar os 4%.

“A título preventivo e sem carácter de urgência o ministro da Saúde, Xavier Bertrand, e a secretária de Estado Nora Berra desejam que as próteses sejam removidas, mesmo sem sinais clínicos de deterioração”, lê-se num comunicado da tutela, citado pela AFP. Assim, o ministério recomenda que as mulheres “consultem o seu cirurgião ou médico assistente”, para poderem realizar “os exames clínicos e radiológicos apropriados” para determinar o estado do implante e programar uma remoção posterior.

O comunicado do Governo surge na sequência de um parecer científico que era aguardado e que foi realizado pelo Instituto Nacional do Cancro daquele país, que contudo assegura que “não há qualquer risco acrescido de cancro nas mulheres portadoras dos implantes PIP em comparação com outras próteses” – ao contrário do que chegou a ser noticiado, já que se contabilizaram oito casos de tumores malignos em mulheres que tinham recebido implantes da marca em causa. De todas as formas, o Ministério da Saúde insiste que o risco da ruptura é real e superior ao normal, pelo que só esse motivo justifica a remoção, já que o gel industrial utilizado pode provocar reacções inflamatórias graves.

A tutela garante que o custo da nova intervenção deverá ser inteiramente suportado pelos fundos dos seguros públicos de saúde do país, desde que os implantes tenham sido colocados por motivos clínicos, como em casos oncológicos, escreve a Reuters. Mas há já um grupo que representa as mulheres que receberam os implantes PIP e que reclama que a remoção dos que foram colocados por razões estéticas seja também paga pelo Estado. O grupo tem, aliás, sido contactado por mulheres de todo o mundo, que estão preocupadas com a situação e que procuram uma solução, já que a empresa faliu.

Mais de 1500 intervenções em Portugal

Em Portugal, ontem, a Direcção-Geral da Saúde (DGS) também aconselhou as mulheres portuguesas “a consultarem o cirurgião ou médico assistente na unidade onde lhes foi colocado o implante a fim de poderem ser submetidas a exames de vigilância”. Em comunicado, a DGS explicou que em Portugal apenas cerca de 3% de todas as próteses mamárias implantadas são da marca PIP, “estimando-se que 1500 a 2000 portuguesas tenham estas próteses implantadas”. E lembrou que em Março de 2010 a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) suspendeu a comercialização em Portugal dos implantes mamários de silicone pré-cheios que se suspeita poderem gerar algumas complicações.

“Nestes termos, se bem que não se considere uma emergência, aconselham-se as mulheres que fizeram implantes da marca PIP a consultarem o cirurgião ou médico assistente na unidade onde lhes foi colocado o implante a fim de poderem ser submetidas a exames de vigilância”, lê-se no comunicado da DGS.

Esta semana, também o Infarmed disse ao PÚBLICO que a decisão de uma eventual remoção dos implantes será sempre clínica. Não foram ainda reportadas quaisquer situações adversas em Portugal envolvendo este produto. Também o presidente do Colégio de Cirurgia Plástica e Reconstrutiva da Ordem dos Médicos, Vítor Fernandes, aconselha a que as portadoras de um implante mamário PIP se dirijam ao seu cirurgião, que “fará uma análise para ver se a prótese está íntegra”.

O diário britânico The Guardian avançou ontem que cerca de 40 mil mulheres daquele país utilizaram implantes daquela marca e que 250 processaram as clínicas onde foram intervencionadas. Segundo a advogada das queixosas, Esyllt Hughes, citada pela agência AFP, mais de metade das mulheres visadas tiveram rupturas de próteses. Esyllt Hughes adiantou que as queixosas resolveram processar as clínicas porque o fabricante, a empresa PIP, “está em liquidação judicial”.

Estima-se que em todo o mundo 300 mil mulheres tenham recebido implantes da PIP, que tinha uma produção anual de cem mil próteses, até serem retiradas do mercado no início de 2010. A marca PIP, fundada em 1991, em França, chegou a ser o quarto fabricante mundial de implantes mamários.

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